O Mapa Do Amor No Meu Namibe

Isso não é poesia. É declaração de guerra ao meu próprio juízo. É a Parte II do artigo O Namibe a Avô Rosa e a Minha Rainha do Bailundo

By Éden

Fui arremessado como sebo de quimbo, saí de mim e percorri, em êxtase, todos os municípios do Namibe:

  • Bibala me ensinou que o amor tem o cheiro da terra depois da primeira chuva,
  • Camucuio sussurrou que paixão é coisa de quem não tem pressa, como o gado que bebe no rio seco,
  • Bentiaba riu de mim e perguntou: “Achas que foges do que te queima?”,
  • Serra da Chela, altiva, cobriu-me de névoa para esconder meu rosto timido,
  • Cunene na foz do rio, terra sagrada, mergulhou meu corpo em suas águas… mas nem ela, mãe das correntes, apagou o fogo pela minha rainha do Bailundo.

A Matemática do Cupido (Versão Umbundu)

“Cupido mora nos olhos dela” ele não é um kandengue boelo com arco e flecha. Cupido é caçador antigo, das terras do Bailundo, um tio frio, que acha que sabe tudo, foi ele que me agrediu:

  • 1ª flexa no joelho (para eu cair de joelhos),
  • 500 flexas no peito (para o coração aprender novos ritmos),
  • 2499 flexas na alma (para eu sonhar até acordado).

Sobrou uma, a de número 3000, que ficou cravada na minha boca e agora só sei murmurar o nome dela. A muzubya da cor de casca de tambarino, tão bonita que brilha quase como o sol e as vezes parece que muda de cor. Um camaleão encantado, cheia de ternura e mansidão com curvas mais perigosas que as das Serra da Leba, tão quente como o sol do deserto do Namibe e quando chega a noite o meu desejo é incendiar-me com ela de tal maneira que nem as aguas do atlantico possam apagar o nosso fogo.

A minha Rainha do Bailundo nasceu no Namibe, uma mulher comum, duma familia comum, com poucos recursos, pobre, mas duma beleza magestosa, nobre postura dela, tão educada quanto bela, a alegria dança auando ela sorri, meu coração balança quando os olhos dela encontram os meus e num instante amar aquela bela virou a minha dança. Grande boda no meu muxima… e outro boda quando os meus olhos miram ela de longe…

O Sonho Que Virou Reino

Sonho todos os dias com a Rainha do Bailundo:

  • Na varanda da Avó Rosa, onde o vento brinca com o seu vestido,
  • Nos areais do meu Moçâmedes, onde nossos rastros somem antes do pôr-do-sol,
  • No mercado, onde ela negocia meu coração como quem compra e vende jinguba, fingindo que não quer, mas com um sorriso iluminado que vale mais que os kwanzas do BNA.

“O amor meu coração tombou” e não foi conquista, foi rendição. Como o marombeiro que vira saco de pancada depois de 12 rounds, eu levanto as mãos e digo: “Pára, já não aguento tanta beleza! quero sejas a minha dama…”

Ela ri. E o Bailundo inteiro ri com ela. Se um dia me perguntarem “Onde fica o Namibe?”, direi:
“Fica onde termina no mapa e começa o meu sonho. Onde o rio Cunene deságua, mas o amor nunca seca. Onde a minha Rainha do Bailundo me caça e eu, o Kandengue de Luanda ‘bem viju’, corro feliz para ser caçado, um preso apaixonado.”

Se um dia me perguntarem “Onde fica o Namibe?”, eu não apontarei no mapa.

Direi:

“Fica além da última curva da estrada para o sul, onde o vento escreve cartas de amor na areia antes que o mar possa apagá-las. Onde os pescadores lançam suas redes, mas o único peixe que importa é aquele que fisgou meu coração no mercado da Quileva.”

E continuarei:

“O Namibe verdadeiro está onde o deserto encontra o mar num abraço que dura séculos — assim como meus braços procuram os contornos daquela que vem do Bailundo, trazendo no quadril o balanço das colheitas e nos olhos o segredo das estrelas que guiaram os nossos avós.”

E finalizarei:

*”Mas se quiseres encontrar o meu Namibe, não sigas as placas. Procura ser feli no lugar onde o teu corac encontrar pa na baia do Saco Mar, nas Praias brasileiras do Tombwa (Porto Alexandre) onde:

  • O tempo vira areia entre os dedos,
  • As saudades têm gosto de maboque com múcua madura,
  • E um certo sorriso de mulher que ainda me faz tropeçar em lembranças… mesmo depois de todas as luas que passaram.”

Alguns lugares não existem nas coordenadas geográficas. Vivem nas cicatrizes que deixam quando nos arrancam de lá. O meu Namibe tem nome de mulher e sotaque de Bailundo… e isso, meu irmão, nenhum GPS vai te mostrar.

massambalamedia@gmail.com
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